sábado, 9 de abril de 2011

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA


O papel está branco, apesar da luz vermelha. Fica submerso, os meus dedos tocando suavemente nele, enquanto se afoga, arrastando um outro branco que os olhos só podem ver rosado ou sangue diluído. E logo começam a aparecer os fantasmas. A vaga imagem de um sonho aparece sob a água do tanque , alquimicamente a emergir no papel ondulante, como qualquer coisa de outro mundo feita de incertezas. Não se trata de uma ressurreição, mas aquilo existe. Vejo claridades paralelas, de súbito lembram dedos, mas a sua base desmente a sensação, em vez de dedos parecem prumos distorcidos de uma balaustrada, um negro profundo atrás ou em parte nenhuma. Pois não, o que está por cima do que quer que seja são apenas, ou sobretudo, faixas de sombra ligadas a um vazio negro muito denso. A luz parou de subir, há uma sombra doce de um lado, e o que posso enfim descortinar é aparência de pele, pele humana, um corpo em curva, sentado lateralmente, e as formas escuras, paralelas de um modo imperfeito, são aplicações de persianas não fechadas, mal alinhadas, perdendo o efeito gestáltico, dando a ver um corpo feminino entre sombras que lhe asseguram a continuidade, a configuração do ombro, o torso, uma coxa meio encoberta — porventura a lírica aparência da reflexão intimista, pose, ausência, exercício conceptual que apura a nossa controversa mobilidade visual, a percepção e o seu desconfortável limite.
A fotografia assim, numa espécie de pose, mostra mais do que o instante do disparo. está pronta a ficar amarelada, dando a ver a alma antiga que absorveu de alguém, testemunhos baços e belíssimos personagens, familiares nossos, por exemplo, que assim ainda existem, enternecidos, levemente desfocados como tudo o que nos rodeia nos caminhos entre lugares urbanos.
E num suporte diferente, como acontece se percorrermos todas as imagens expostas, propostas, a dicotomia dos valores dá lugar a outra cadência, do negro à luz capaz de redimir toda a massa de cinzentos que amolece o nosso olhar: são dedos pendidos, em contra luz, sobre um panejamento abstracto, repousam ou apontam caminhos a cada olhar.
A teoria desta fase da fotografia de Daniela Rocha passa por vários pontos de referência, pelo corpo recriado entre a luz e a sombra, pelos cruzamentos de formas projectadas, enviesadas, semi-desfeitas com a luz onde a vida parece, embora confusamente, recuperada para o domínio expressivo da pose, da espera, da respiração, enfim, num acordar cheio de escondimentos e de sensualidade.

Rocha de Sousa

domingo, 3 de abril de 2011

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